Lúcio
está sentado em um canto da sala vazia, enquanto Malu esta no meio dela.
Deitada, com as pernas para cima, lendo um livro com os cabelos soltos e
espalhados pelo chão.
- (pensativo) Malu.
- (distraída com o livro) Oi.
-
Já pensou em escrever uma história?
- (bocejando) Ah não.
- (levantando e começando a andar devagar pela sala) E por que não?
- (folheando o livro) Ah não.
-
Podia ser uma saída. Imagina só? Seria o momento certo de você conseguir
colocar em prática todas essas suas ideias meio (pensa) “diferentes”, e ao
mesmo tempo conseguiria desatinar um pouco esse nó que é a sua cabeça
(segurando os pés dela) Uma história sem pé (olha para os pés dela e abri as
pernas desta) nem cabeça.
-
(rapidamente ela olha para as pernas abertas, fecha e vira de bruço) Não Lúcio.
(olhando para o lirvo) Não é assim, simplesmente porque eu tenho que resolver
um problema da minha vida, eu escrevo sobre isso e fim? Você acha que assim eu
conseguiria resolver isso?
-
Pelo menos fugir um pouco dessa molera (meio cansado)
-
(vira para Lúcio, um pouco nervosa) E você queria o que? Que todos os meus
assuntos inacabados fossem resolvidos assim? Eu escrevo uma história sobre isso
e ai sim, eu relaxo. Esqueço? Não. Não é assim Lúcio.
-
Poderia te ajudar, pelo menos para que você voltasse a querer... (abaixa até
ela)
-
O que? (senta)
-
(meio desajeitado) Voltar. A escrever sobre coisas mais felizes.
-
Ah. (vira-se para o livro) Já percebeu que as histórias mais bem contadas e
mais bem resolvidas são as mais tristes? (fecha o livro) E elas vendem mais
Lúcio. (levantando-se olhando ao seu redor como se procurasse outro livro)
-
E o que importa? O que importa se vendem mais? Você não escrevia só por amor
(concertando-se) Ou melhor, por paixão?
-
Ainda escrevo por isso. Mas a paixão já terminou.
-
Tem certeza? (rir) Eu poderia agora mesmo te mostrar que isso tudo que
aconteceu não foi por acaso.
-
Ah é? Então me diz um motivo útil de chegarmos aqui e estar tudo totalmente
vazio (olhando para Lúcio)
-
(meio triste) Para que a gente pudesse aproveitar.
-
Aproveitar o que Lúcio?
-
Tipo... (alegremente) Dançar? Escrever...
-
Dançar? Ah não.
-
(pega na mão da Malu e a puxa para uma dança agitada) É Malu, esquece, deixa de
ser tão metódica! Dance comigo!
-
(rindo) Para com isso Lúcio.
-
(continua) Vamos Malu!
-
(rindo) Para com isso Lúcio!
-
(continuando) Escreve Malu! Escreve sobre tanta coisa bonita que você conheceu
que você faz! Escreve sobre o que você vê, escreve sobre seus sentimentos,
escreve sobre você! (puxa ela) Escreve sobre nós.
-
(ofegante e imobilizada) A gente pode só dançar então?
-
(segurando ela mais devagar, abraça e dança junto no meio da sala) Sabe o que
eu lembrei agora? Aquele dia que você ficou bêbada e começou a imitar Piaf, no
final daquela música.
-
(rindo e imitando a cantora) “Milord!”
-
(rindo) É... (olha pra ela) E o melhor... é sentir que você acredita que faz
igualzinho a ela. Eu queria...
-
(olha pra baixo e ajeita o cabelo) Que você estivesse aqui de verdade... Eu já
sei.
-
E eu realmente conseguisse acreditar que você pudesse voltar a escrever para
mim.
-
(ela o beija de maneira diferente e igual para os dois) E eu queria que você
pudesse perceber que eu ainda escrevo para você. (solta ele e volta a deitar no
chão, ele volta para o canto de origem)
-
Malu.
- Oi.
(deitada e distraída com o livro)
-
Já pensou em escrever uma história?
BLACK.
Mais uma de Amor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário