***
Um
dia desses eu acordei querendo roubar a lua pra mim. Egoísmo! Disse a minha
consciência. Ontem eu acabei descobrindo que tem alguém apaixonado por mim. Já
parou pra pensar que enquanto estamos tão revoltados ou ligados em outras
coisas da vida, pode ter alguém por ai que só pensa na gente? Que pode está
apaixonado por nós? Nesse caso, por mim. Dia desses me sentir tão sozinha. Foi
isso que me tirou dessa tremenda fossa. Eu sabia que em algum lugar desses tem
alguém que é por mim. Essa história toda da lua surgiu como um surto da minha
psiques mal curada. Se é que isso pode acontecer.
Estava
eu andando pela casa até quando escutei um barulho e como não me importava mais
esse mundo, medo já não estava incluso em minha cons(ciência). Descobrir que
tinham acabado de invadir a casa da minha vizinha. O pior que a invasão era de
mentirinha. Ela tinha pagado um cara para invadir a casa dela e depois... Daí
já não mais importa. Quando dei por mim estava muito próximo da varanda,
percebendo todo aquele movimento que se passava. Quanto mais ele subia, ela
fingia que gritava, até porque aquele horário mais “ninguém” estava acordado.
Além de mim, claro, percebendo toda aquela cena cômica e um tanto quanto
exagerada. Mas ainda assim me perguntava “Por quê?”. Primeiro pensei que
pudesse realmente ter sido isso, pagamento e produção. Talvez ele fosse o que
chamamos de moço da conta. Da conta das mãos, dos pés, das coxas... Mas e por
que ele não poderia ser um amigo que veio conversar nas horas vagas enquanto
sua família esta sonhando? Enfim, toda aquela história me trouxe uma sensação muito
arredia. Eu simplesmente sentir raiva dela. Porque nem invadindo a minha casa
conseguir tal proeza, aliás, nem nunca invadiram minha casa. Foi quando tive
uma ideia!
Era uma quinta feira à noite e eu estava
totalmente em mim. Olhei pela janela que dá para vizinha, e a deixei
entreaberta. Jurei que nunca mais faria isso. Peguei a minha chave, abrir a
minha porta e deixei a chave lá, pendurada. Sentei no sofá como se esperasse
qualquer coisa e a qualquer momento. Esperei. Esperei. Esperei... Cochilei.
Acordei assustada dando o pulo do gato “Ai! Entraram e eu nem sentir!”. Dei-me
conta de que a porta estava exatamente no mesmo lugar, eu sentada exatamente como
estava e já era de manhã. Raiva. Esperei a outra quinta feira. Olhei pela
janela e vi que a vizinha já se preparava para o desfrute. Foi quando peguei a
chave, abrir a porta e sentei no sofá. Esperei, esperei... Nada. “Não é
possível!” Gritei. E isso foi se repetindo, repetindo, repetindo. E foi se
tornando um vício profundo. “Essa é a última vez.”. Enganava-me.
Até
o dia que eu fiz tudo como mandava meus costumes. Só que dessa vez a vizinha
estava na sua sala de leitura, tomando chá. “Chá? Mas será que ela enlouqueceu?
Ou simplesmente esqueceu que dia é hoje?” Enfim, encucada, mas continuei arrumando
tudo nos conformes. Peguei a chave, abrir a porta e sentei no sofá. Só que
dessa vez eu não cochilei, não teve nem tempo. Sentir que tinha alguém se
aproximava. “Mas o que isso?”. Não me conformei. Todo esse tempo e agora que
entrou? Não me conformei. Ele entrou, pegou as chaves e trancou a porta. Olhou
pra janela entreaberta e me segurou firme. E ai eu cochilei. Profundamente. Só
que dessa vez eu acordei com outra aparência, com outro cheiro, como outra.
Nesse dia não sai de casa. Anoiteceu. Foi quando resolvi abrir a janela. Ai eu
vi. Minha vizinha no quarto e o cara invadindo novamente sua casa, como de
costume. “Mas... Mas... Mas! Então hoje é quinta feira?”
Percebe
tudo que eu havia feito, estava ficando louca ou o quê? Não é possível. Fechei
a janela, peguei a chave, abrir a porta e como ficou eu a deixei. Entrei pela
sua porta entreaberta, subi suas escadas, entrei no seu quarto e vi a
movimentação. Com um suspiro o homem que invadia a sua casa todas as quintas
feiras nunca havia sido um problema perante a minha presença ali. Antes mesmo dela
falar alguma coisa, ainda em pleno movimento, eu suspendi a minha inocência e
fraqueza e disse “Ontem foi quarta feira!!!”. E em ininterruptos momentos,
lancei a minha fraqueza perante aquele movimento. Foram dez lances. Em cada um.
Sai
de lá, deixando a porta aberta e suas chaves penduradas na porta. Entrei em
casa, fechei a porta e deixei a janela entreaberta. Sentei no sofá e cochilei. Um
dia desses eu acordei querendo roubar a lua pra mim. Egoísmo! Disse a minha
consciência. Ontem eu acabei descobrindo que tem alguém apaixonado por mim.
Mais uma de Amor.