sábado, setembro 14

5 de setembro, uma história efêmera.



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          Eu nem lembro mais o beijo dele. Nem gosto, nem forma, nem sorriso nem como vinha. Me recordo bem, porém, com olhinhos cerrados de paixão, quando você vinha me beijar em surpresa, enquanto brincava com as meninas. Me lembro de reflexos apenas, do seu corpinho que me chegava, distante e leve. E eu te gostava tanto por ser assim. O nosso amor era digno de se mostrar, viver. Digno de uma suposta inveja. Naquele dia, o nosso último grande dia, não por tempo, mas por nós. Éramos nós, juntos. 
      E você me propunha ficar ali para sempre e como eu queria mesmo estar para além daquele dia. Doce, livre, forte, nossa. Lembro da minha chegada, o primeiro olhar e o apresso da lua. Eu consigo lembrar da sua face séria e do sorriso que sempre carregava no corpo. Do pedido para os primeiros chamegos, dos corpos únicos, das brincadeiras e tirações de sarro, dos almoços e da sua mania de mandar em quem está cozinhando, de como sabíamos estar juntos e com os amigos também. De como parecia verdadeiro, mas ainda assim agia de forma desconfiada e assim eu me divertia. 
        Recordo em uma das minhas chegadas o jeito que me olhava e esperava eu aparecer pra te fazer certezas de quereres. Lembro com graça do seu jeitinho manso e dos seus pés sujo de areia. Além da sua forma singular de tomar banho de roupa e tudo. Eu juro e hoje sei que em cada momento juntos eu te amei tanto, querendo te cuidar sempre, te fazer parar de fugir das obrigações e das válvulas de escape. 
      Eu te quis tanto que te deixei no "último" momento, por medo de não conseguir dar conta deste cuidado que se mostrou tão intenso e necessário. Apesar disso, não criei arrependimentos e "segurei" muito a leve tristeza de saber que facilmente, ou não, outra ocupou esse espaço que tanto você dizia ser meu. Mas afinal, nunca foi, não será de ninguém e por te amar eu te deixei viver. No entanto, sei das lembranças, das memórias, mas não consigo lembrar do seu beijo mais.



Mais uma de Amor.