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É tarde, ainda estamos em abril. Eu acordo assustada pelo
sonho que vem me assombrando a meses. Nele, estou caminhando pelas ruas de Paris
procurando onde enfiar a minha face naquela noite. Também era tarde e sentia
muito frio. Caminhava como se soubesse onde queria chegar. Avistava no final da
rua um corpo encostado no poste que fazia a sombra da silhueta dos seus
quadris. Humildes quadris. Eu me aproximava mais e a sombra diminuia, enquanto
a minha aumentava ao redor da estrada. Chego perto, suspiro e não há ninguém,
só à marca de cimento no chão. Aos poucos eu decido voltar e continuar de onde
havia começado. Mas quando eu volto não há mais nada, nem rua, nem estrada e
nem mesmo as luzes de Paris. Ai eu sufoco. Começo a perder primeiro a fala,
depois sinto uma enorme dor no estômago, vou caindo e morro. Esse é o momento
que eu me assusto e acordo chorando. Eu choro até não aguentar mais, até os
meus olhos ficarem chineses. Então começo a escrever sobre uma dor que me move,
sobre Freud e seus limites sexuais. Quando você não dorme o que faz? Eu sonho.
Mais uma de Amor.