sábado, janeiro 28

Eu te amo, eu te amo, eu te amo... Eu não te amo.



PARTE I

(Um espaço vazio, uma cadeira no centro, um foco de luz)

(olhando pra baixo) Já se passaram tantos dias depois disso, e como eu havia tentado explicar (pausa) é difícil, ainda assim, eu posso tentar. Você tem ideia do que é a vida? É tão igual, tão parecido com o amor (olhando pra frente) é estranho, sem um conceito pronto, preparado pra ser extrapolado com um manual de instruções. O que será que podemos ou não fazer? E qual o sentido de cada momento que passamos? Você. Sabe dizer? (olha pra frente e aponta) Por que você esta sentado ai sem dizer uma só palavra e me olha (voz firme) desse jeito! Sente medo? Ou apenas esta esperando ouvir metade das coisas que escuta todos os dias? (balança a cabeça como sim) É. Como já esperava. Olha pro seu lado, consegue enxergar alguma coisa? Não, além disso, você consegue ver? Esperei várias noites (pausa) noites? Como se eu soubesse se era dia, mas dava pra sentir. O tempo mudava, apesar do barulho que se escutava, acostumava. O som agudo, fundo e quase imperecível de lembranças sujas já não era mais um desconforto. Imagine você (se vira para frente) consegue guardar um segredo?  (rir e balança a cabeça como um não) Não sabe. E graças a isso eu demorei tanto pra entender.  Já percebeu quantas vezes a gente morri em um dia? (olha fixo) Eu não. Antes disso eu só conseguia perceber o silêncio. (se vira rapidamente e olha ao redor) Consegue escutar? É só isso. O silêncio. O pequeno silencioso silêncio dos incompreendidos e controlados remotamente. Assim.  Ta aqui pra que? Quer ouvir mais uma história ou apenas mais dez mandamentos para ter a certeza de que ninguém presta nesta bosta de espaço? Nenhum som era igual aquele (mãos no ouvido) Tão agudo e frio. Ficava lá (aponta) esperando que a qualquer momento algo pudesse aparecer e acontecer. Tudo tão sujo, podre, fedia a (estala os dedos) pó.  Eu posso dizer o que você quer escutar, que foi pra isso que você veio não é? (rir) Perguntas. Nunca serão totalmente respondidas. E as dúvidas sempre permaneceram. Fato. Fato? 
(...)


Marina Ramos


logo mais a continuação...

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